Casito por Karai
Casito é uma das figuras fundamentais da cena do underground mineiro e brasileiro desde a década de 80. É conhecido e reconhecido por todos e inspira uma confiança gigante com seu jeito simples de abordar, entender e explicar questões complexas. Um kara que pensa no coletivo antes de pensar em si mesmo, que busca o que é justo e luta para que as coisas sejam como deveriam ser. Mestre das letras, da arte de contar histórias, faz com os companheiros do Witchhammer verdadeiras obras de arte. Um Kara foda e do Karai!
Por Eduardo Gordo Davis – Karai
Casito por Casito 🙂
Tô achando legal essa entrevista pra Karai! (… rs) Bem, não sou chamado nem conhecido por José Oscar por quase ninguém da família, amigos e alunos. No entanto, temos Casito, Casitão, Gastão, Casinight, Castilho, Quasimodo, Carlito, Carlos Vítor!!! ( fala rápido e meio bêbado), Cavito, Tavito, Gazitor, Casmirito, Cásio, Casaids, Casório, hahahahahahahaha, Casemiro, Casin, Casé, Cazu, Casa, Cassito, Cássio, Cazuza, hahahahaha, sendo Casito, o real apelido (Sempre quis fazer essa lista, desculpem a delonga). Sou vocalista e baixista da banda Witchhammer, de 1986. Sou também professor de Inglês desde 1994 Atualmente, também me dedico a produções culturais no estado.
Falando um pouco sobre o passado, quais são as melhores memórias de quando começou a tocar?
Foi quando eu vi a banda Distorção Neurótica, hoje, todos meus amigos, tocando no bar Rock Station, do meu brother Júlio Perilo, no Santa Inês. Fomos a pé, da Sagrada Família, levados por Marquinho e Dilsinho, do Sagrado Inferno, que eram mais velhos e sabiam das melhores quebradas, hahahahah, eu tinha 14 anos. Já ouvia tudo, mas tudo mesmo de rock anos 70. Morava com um primo aqui na casa de meus pais que era o mais roqueiro do Brasil! Hahahahah…. Nasci em 1970. Eu com 6, meu primo tinha 17, já tava barbarizando! Tinha ensaio aqui em casa também, meu primo e uns hippies malucos! Diesel. Bem, voltando ao show, ali eu vi os caras tocando aquilo que eu ouvia, Sabbath, Purple, Grandfunk, Who, etc, e não acreditava!!!! Prá mim aqueles discos que eu via em casa, aquele som, saca, era só coisa de inglês, ninguém tocava aquilo não! Impossível! Hahahahah,aquilo me pirou muito! Depois, ir nos ensaios do Sagrado aos 14, Sepultura (dava pra ouvir o ensaio deles aqui do quintal de casa!) aos 15 anos. Logo, compraria um baixo. Tinha que fazer aquilo também.
Encontrar a galera, ensaiar, beber e fumar cigarros. Dessa suruba nasceram os discos e shows na adolescência. Éramos muito jovens e esse universo era gigante prá nós. As melhores memórias são sempre relacionadas a isso, os shows,os porres, as viagens e todos os amigos que fizemos e lugares que conhecemos. Uma lembrança engraçada, mas muito empoderadora para os jovens que éramos, é a de pessoas encostarem as bundas na parede e fazerem o sinal da cruz quando passávamos nas ruas. O senso de ser de uma tribo também é uma memória marcante.
Que bandas você ouvia quando começou a tocar?
Mercyful Fate, Slayer, Venom, Metallica, Messiah, Hellhammer, Exodus, Celtic Frost, tudo que aparecia era raro e bem-vindo em 85.
Você diria que eles foram uma influência em sua música?
Total e irrestritamente.
O que você tem ouvido recentemente?
Uganga e Dunkell Reiter, nacionais, e sempre ouço blues e anos 70. Havok e bandas novas de Thrash Metal.
O que você ouve de metal nacional?
Procuro ouvir um pouco de tudo. Pesquiso coisas por mim mesmo e recebo também muitos presentes, CDs, e ouço tudo, Cracked Skull, Dunkell, Life to those Shadows, Angel Butcher, Zargof, Schofar, Uganga, Zilla, Sagrado Inferno, Sepultura, Bulldogs.
Nervosa, Pesta e Korzus. Estou querendo ouvir o álbum do Preceptor.
Quais são seus planos musicais para o próximo ano?
Curtir as consequências bombásticas dos lançamentos e relançamentos que estamos envolvidos neste segundo semestre de 2017! Hahahahaha….
Bem, temos o relançamento do The First and the Last, de 1988, duplo, que inclui a regravação de 2017; temos o lançamento do novo Metallanguage; participação no encerramento da Mostra Metal em Minas 2, no show do School of Metal e mais. Espero muitos shows, novas amizades, novos lugares e grana.
O metal mudou muito em termos de som e estilo durante esses anos. Quais são as suas impressões?
Mudou muito. Muitas variações. Mas acho natural e incontrolável. O legal é ser da turma de camisas pretas. Continuo ouvindo meus Thrashão véio e uns novos também muito bons.
O rock ainda têm o poder de transformar mentalidades e efetivar mudanças sociais e políticas duradouras?
Sei que o rock envolve milhões de pessoas, no entanto, não se relaciona o rock com mudança mais. O rock não carrega mais a bandeira da revolução. Nem seus fãs.
Como você descreve a cena metal hoje?
Uma ala bem profissional, ou em vias de ser, que carrega a coisa com muita honra e dedicação, bons resultados e bons produtos, de cabeça boa e sintonizada e outra ainda estudando ou amadurecendo suas redes e metas. O crescimento de todos é o que importa agora.
Como resgatar e promover o metal nacional?
Resgatando a arte, as artes todas, interligadas com o metal, livre. Valorizar o artista do metal, boas aparelhagens para shows, dignidade. Voltar a mostrar a cara do metal de verdade, sua atitude de ser contra o normal, contra o careta, contra o conformismo. Contagiar a população.
E o Karai?
Acredito, pois conheço os fundadores, que eles também pensam assim. Então estamos juntos no caminho certo, eu acho. Vida longa a vocês!!!! E obrigado!
O que falta no Brasil para que o artista possa realmente viver de seu trabalho?
Falta o povo comprar os CDs, camisas, e ir aos shows das bandas. Só isso. Ah, e suas bandas tocarem bem, terem bons produtos de excelentes inspirações e fazerem algo mais contagiante, diferente, que se destaque.
Qual a sua opinião sobre a ditadura musical da atualidade?
Ela vem da mega super hiper badalação que as redes de televisão abertas e algumas estações de rádio populares fazem, e como são as mídias mais populares, o povo compra. E imita as danças, cabelos e roupas. É só desligar dessa hipnose que passa.
Quais livros fizeram ou estão fazendo sua cabeça?
Shakespeare, Machado, tudo. Curti muito e pirei no On the Road , Jack Kerouac. Augusto dos Anjos e Mário de Sá Carneiro, tudo. Tudo de Alberto Caieiro. Venho sempre lendo Isaac Asimov nos últimos anos também.
O que você tem a dizer para quem deseja sair do armário dos instrumentos empoeirando e quer viver de música?
Viver de música? Toque covers. Hahahahahahahahahaha. Mas você pode também estudar e se dedicar muito mesmo à música que deseja fazer de autoria própria e fazer tudo com sinceridade e amor ao metal que você curtir tocar. Ter um networking crescente e envolvido, soar bem e atrativamente, pensar como empresa, ser amistoso e diplomático. E ser bom no que faz, ter um produto bom de verdade.