Qual a maior dificuldade que as bandas enfrentam atualmente?
A maioria das bandas autorais, geralmente, passam pelas mesmas dificuldades, como a falta de bons espaços para se apresentar, incentivos, apoio do público sem falar na própria desvalorização dos músicos regionais em favor de artistas de fora. Para continuar no cenário, muitas bandas estão tendo que tocar em conjunto para conseguir se sustentar. E é exatamente em meio a tropeços e dificuldades que as bandas independentes buscam deixar sua marca no rock and roll nacional.
Qual a importância das letras na sua opinião? O público se interessa pelas letras?
Adoro música… para mim música é vida, música é sentimento… e as letras das músicas refletem muitas vezes os momentos que estamos passando. A letra precisa estar a altura da música para que haja um casamento perfeito. Eu gosto de acompanhar às letras que eu ouço a fim de sentir o tipo de mensagem que elas passam. Os temas das letras do Zargof variam bastante entre filosofia, paganismo, natureza, cosmos e às vezes algumas pessoas comentam comigo sobre a temática das nossas letras. É um assunto que acaba rendendo bastante tempo…
Qual a maior satisfação que você teve com música até hoje? Foi embaixo do palco ou em cima do palco – ou no backstage?
A música é o alimento da minha alma… e fazer música é algo incrivelmente fascinante e satisfatório!
Durante nosso processo de gravação muitas vezes parávamos tudo e dizíamos um para o outro “… ei, cara, isso ficou ótimo! Deixa eu ouvir novamente?”
Porém, para se fazer sucesso, você tem que vender o que tem de melhor e ir além. Em nossos shows procuramos mostrar ao publico algo mais do que apenas a musica. Nosso show tem muitos efeitos, projeções minuciosamente sincronizadas com as musicas, sem falar na própria performance da banda. É isso que as pessoas querem ver quando saem de casa para ir a algum show e não apenas ouvir uma banda como seu ouve em casa no CD-Player. Esse “plus” que colocamos nas nossas apresentações faz com que as pessoas se aproximem de nós após os shows, elogiando tudo o que viram de diferente e que acharam legal e é assim que queremos ser lembrados.
Nossa maior satisfação é justamente esse reconhecimento de ter feito algo legal, diferente, que impressione e toque o sentimento das pessoas que nos assistem.
A busca por um som diferente é uma constante?
O Metal avant-garde é talvez o gênero mais inovador dos últimos anos. É um gênero de transição do heavy metal caracterizado pela experimentalidade e pela forma não estruturada de sons, instrumentos e letras. Em nosso som procuramos incluir alguns elementos não convencionais para o estilo, o que pode incluir misturas com industrial, ambience e outros estilos e ainda assim sair um som coeso e imprevisível a cada música.
Qual a melhor maneira de entender o que acontece no mundo underground?
Antes de mais nada, é preciso entender o conceito da palavra. Underground é usado para designar um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais, dos modismos e que está fora da mídia. O que define se uma banda faz parte do Underground (ou Mainstream) é o seu alcance em termos de mídia. As pessoas não sabem mas, existe muitas bandas boas no Underground, com músicos extremamente competentes e canções maravilhosas mas estão fadadosa permanecer no mesmo lugar devido justamente à falta de incentivo e oportunidades para mostrar seu trabalho.
A Sonoridade não tem nada a ver com o fato de ser ou não underground, grupos com musicalidade extrema podem ser um sucesso de vendas e outros com sonoridade amena podem nunca se tornar populares.
Para entender o Underground é necessário vivenciá-lo, participar e principalmente apoiar as bandas que têm este como único espaço aberto para mostrar seu trabalho.
Qual o seu envolvimento com a cena atualmente?
Meu envolvimento com a cena, hoje em dia, não é tão ativo quanto um dia já foi. Mas ainda participo de novos grupos criados para manter a cena ativa.
Quais estilos e bandas merecem a sua atenção hoje em dia?
Sou um apaixonado pela musica pesada. Adoro ir a shows e ver o que as bandas novas estão fazendo. E em meio a todas elas, apesar da grande maioria fazer um som muito parecido com o que já existe, gosto de ver quando as bandas trazem coisas novas para suas musicas.
O que você ouve de metal nacional?
Além das já consagradas bandas brasileiras de grande sucesso no Exterior (Sepultura, Angra, Krisium, dentre outras…) gosto muito de ouvir bandas nacionais. Tem muita banda boa, da nova e da velha geração que eu gosto bastante de ouvir. Gosto do Dorsal Atlântica, do Korzus…
Gosto quando me apresentam um material muito foda e que de repente é uma banda brasileira, do underground e com muita qualidade.
Em 10 anos, ainda estaremos aqui?
Especulando quais serão as principais mudanças em relação ao cenário internacional acredito que o mundo se tornará um lugar mais perigoso e instável nos próximos anos, temos que manter nosso foco, acreditar nos nossos valores acima de tudo. Só assim conseguiremos nos manter por aqui.
O que pode mudar para melhor nos eventos que os produtores nacionais oferecem para as nossas bandas?
Cara, nosso metal não pode mais ficar escondido em porões.
A palavra underground pode até fascinar quem está ainda no inicio mas, não enche barriga de ninguém e quem faz, o faz por puro amor ao estilo!
Nossas bandas, com algumas (raras) exceções, pedem esmolas, tocam a troco de cerveja, são depreciadas, não decolam lá fora, e também não conseguem público aqui.
Nossas revistas, músicos, bandas, promoters, enfim, formadores de opinião, precisam se tocar de que “Apoio” não é simplesmente postar uma matéria em meio a um monte de postagens gringas.
Bom, ou mudamos alguma coisa, ou “continuamos nos vendendo por espelhos”.
Livros são fontes de inspiração para músicas?
A música e a literatura são, de certa forma, artes irmãs e se escritores já se deixaram influenciar por melodias para construir as suas narrativas, é natural também que alguns compositores tenham se inspirado em livros para criar e compor seus temas.
Quais livros fizeram a sua cabeça?
Dentre vários, os que realmente me marcaram de alguma forma foram: Viagem ao centro da terra, 20 mil léguas submarinas, O poderoso chefão, O equinício dos deuses(Aleister Crowley).
O que falta no Metal Nacional?
Principalmente criatividade e auto confiança para criar coisas novas e mostrá-las para o público, ao invés de apenas copiar estilos de bandas já consagradas e fazer sempre “o mais do mesmo”.
Sempre que vejo uma banda fazendo algo diferente, com novos elementos, isto me chama a atenção e digo a mim mesmo “…ei, isso é legal!”
Banda favorita de todos os tempos e estilos?
Não tenho uma “Banda favorita”, por assim dizer. Sempre vivi fases da minha vida onde algum estilo ou banda teve maior influência ou favoritismo.
Comecei ouvindo muito punk rock como Ramones, Sex Pistols, Dead Kennedys… depois veio a fase NWOBHM, os famosos thrash metal da bay area, o progressivo e hoje mais o Metal Avant-Gard.
Qual CD você daria de presente para o seu pior inimigo?
Um CD do Zargof. hahahahahahaha … brincadeira …
Cerveja, água, tequila, whisky, suco, cachaça, refri?
Cerveja e Heavy Metal = combinação perfeita
Quem é você fora da cena?
Fora de cena sou Chris Vale, trabalho como Analista de Sistemas.
Sou um cara de muitos valores familiares, gosto de cuidar da minha casa, gosto de plantas e animais e sempre preso muito pela amizade acima de qualquer coisa.
Se tem um legado que gostaria de deixar é de ser amigo dos meus amigos.