Laranja por Karai
Laranja é uma peça raríssima e de fundamental importância para o Karai. Com seu jeito reservado, suas opiniões bem guardadas, tem paixão pela música e por voar. Parece que nesses momentos de solidão no céu e de boa música nos ouvidos constroem pensamentos únicos, alaranjados, pérolas de sabedoria espontânea, com e sem fumaça. Um grande e inseparável amigo do Karai du Karai.
Por Eduardo Gordo Davis – Karai
Baixista e vocalista do Chakal, Laranja diz que estar no Chakal, ou talvez em qualquer banda de metal, que não tenha uma projeção, ou exposição maior, é somente por questão de realização pessoal. Ninguém da banda ficou rico ou famoso, a ideia é fazer música pesada, cheia de guitarras distorcidas e ter um espaço para gritar os medos, angustias e opressões, sem impor nenhuma regra, nenhuma censura e muito menos querer tirar ou colocar alguém em um caminho, até porque, não existe o caminho e somente o caminhar.
Falando um pouco sobre o passado, quais são as melhores memórias de quando começou a tocar?
Meu primeiro instrumento foi uma guitarra que ganhei de aniversário, importunava os vizinhos com os três riffs que sabia tocar: Smoke on the water (Deep Purple), The jack (AC/DC) e Breaking all the rules (Peter Frampton), juntava com uns amigos do prédio, Bruno, que pegava um baixo emprestado e o Eduardo Davis que tinha uma bateria e tentávamos fazer alguma coisa, acho q nunca saiu nada, além dos 4 acordes da Smoke on the water.
Mais tarde troquei essa guitarra por uma televisão preto e branco para poder usar como monitor de um computador CP-200, isso foi em 1985.
Conhecia o Pepeu, que era guitarrista do Chakal e vivia puxando o saco dele pra ir nos ensaios, mas ele nunca me chamava e ainda quando eu aparecia ele comentava com os caras quando me via: “Lá vem o chato do Laranja”, de tanto insistir um dia ele me chamou para ir, fui, ajudei eles a carregarem os instrumentos e me chamaram outras vezes até que virei roadie deles, ou seja o puxa saco que ajuda a carregar os instrumentos.
Quando a banda teve que mudar o baixista, o engraçado, foi que o mesmo Pepeu, junto com o Korg, fizeram uma campanha para que eu ocupasse o cargo, já que algumas vezes, tocava alguma coisa durante as pausas nos ensaios. A diversão era essa, aventurar na música, ao lado de caras que já tinham uma técnica apurada nos instrumentos e que continua até hoje. Eu nunca tive e nem tenho técnica, nem teoria alguma, e ainda assim os caras do Chakal me permitem tocar com eles, isso que é divertido!
Que bandas você ouvia quando começou a tocar?
Exciter, Iron Maiden, AC/DC, Rush, Exciter, Motorhead, 14bis, Supertramp, Exciter, ELO, Black Sabbath, Voivod, já falei Exciter?!
Você diria que eles foram uma influência em sua música?
Não necessariamente influência, mas eram a minha formação musical, até por que no início no Chakal eu não compunha nada, na verdade eu ocupava um espaço nas fotos e no palco.
Qual é a sua banda favorita?
Rush
Qual é o seu disco favorito deles?
Os 8 primeiros e os 8 últimos.
O que você tem ouvido recentemente?
Obrigatoriamente, por conta dos ensaios e estarmos montando um set list pra shows, tenho ouvido muito Chakal, mas não sou muito de ouvir novidades, gosto de ouvir AC/DC, Motörhead, Rush, Exodus, Metallica e Anthrax.
Quais são seus planos para o futuro?
Realizar os planos que eu tinha para 2011
Você já tocou e viajou com muitas bandas. Com quais mais se divertiu?
Eu toquei apenas no Chakal, e claro dividimos shows com outras bandas, uma vez fui de apoio com o Overdose em uns 2 shows, e o Bozó e Pazzini juntos eram bem divertidos, risada garantida.
O metal mudou muito em termos de som e estilo durante esses anos. Quais são as suas impressões?
Ninguém é o mesmo todo o tempo, então, não tem por que o metal ser. A mudança que eu mais curti foi o lance de usar a tonalidade mais baixa, que alguma bandas usam, inclusive o Chakal, deixa o som mais pesado e também mais sujo nas partes rápidas.
O rock ainda têm o poder de transformar mentalidades e efetivar mudanças sociais e políticas duradouras?
Na verdade eu vejo essa transformação partindo das pessoas que escutam e não das pessoas que o fazem. Eu propriamente dito me interesso pela letra ou mensagem quando gosto muito da música e não me lembro de ter decepcionado. Com o tempo eu entendi que cada pessoa encontra o seu caminho ao caminhar, é claro que existem pessoas que vão com o bando, então onde a maioria vai, eles vão atrás, mas a historia já provou que toda unanimidade é burra!
Porque o Brasil acabou se transformando no país do sertanejo?
O sertanejo se organizou. Esse crescimento sertanejo se deu por conta dos investimentos, vários empresários do ramo rural apostaram em artistas, talvez amigos ou familiares. Num país onde o jabá sempre fala mais alto, tem uma frase que diz: “antigamente a rádio tocava o que o povo queria ouvir, hoje o povo ouve o que a rádio quer tocar”. Na verdade qualquer estilo que tiver um investimento alto em mídia vai crescer.
Como resgatar e promover o metal nacional?
O metal é um estilo de música underground, eu diria marginal, que vive às margens dos outros, a forma de promover é fomentando a cena, é levando a música para as escolas, para que crianças e adolescentes conheçam e criem curiosidade sobre o estilo, lembro que eu comecei a ouvir rock, por conta do irmão cabeludo de um amigo de escola, eu achava ele muito doido e aquilo me provocava uma certa curiosidade. No tempo de escola eu achava os caras roqueiros os mais legais, os mais engraçados e me juntei a eles.
No fim dos anos 80, quando acredito que o metal tenha atingido o seu ponto mais alto, a mídia fazia isso, qualquer hora que você ligasse a MTV, por exemplo tinha uma banda de rock tocando, até em algumas novelas tinham personagens roqueiros, além dos festivais de música que sempre aconteciam.
O que você tem a dizer para quem deseja sair do armário dos instrumentos empoeirando e quer viver de música?
Não faça igual a eu. Dedique e acredite!