Ramon Silva – Canyon
Ramon SIlva é o guitarrista do Canyon, uma banda de São Luís do Maranhão. Eles fazem um som raro hoje em dia. Eles colocam as influências de bandas dos anos 70 em suas composições. Led Zeppelin, Queen, Rush, Captain Beyond… uma mistura fantástica e um resultado muito rico.
O incrível encontro do Karai com Ramon Silva e sua banda aconteceu pouco tempo após o início das atividades do projeto. Ficamos intrigados com o alcance em tão pouco tempo. Mas o mais incrível foi escutar o som da banda e perceber que uma afinidade musical com as minhas raízes. É uma característica comum dos fãs de metal terem uma ligação forte com o rock n’roll dos anos 60 e 70. É algo deixado ali, sempre à mão para que, em momentos de necessidade de paz e reflexão, aquela música especial nos coloque em uma posição de análise a partir de outro ponto de vista. Para o pessoal do Canyon, esse momento é: “sempre”! A música que eles compuseram em pleno século XXI tem esse poder especial. Respondi as mensagens de Ramon com o prazer de quem encontra um amigo que não via há 30 anos. Algumas pessoas sabem como é gratificante trocar ideias com quem tem a mesma admiração pelo som que foi a base intermediária e sólida de todos os gêneros que gostamos desde a década de 80.
Como nessa Era da Informação descobrimos, praticamente todos os dias, algo novo do passado, uma banda antiga, uma música inédita (para nós), teríamos várias daquelas sessões de bate papo e rock n’roll descoberto e revisitado.
Para nós é uma honra ter como parceira uma banda que engloba inteiramente as três palavras que escolhemos para representar o projeto: arte . rock . cultura
Por Eduardo Gordo Davis
Qual a maior dificuldade que as bandas enfrentam atualmente?
Fazer seu som ter destaque de alguma forma. No meio de tantas expressões musicais disponíveis, é difícil chamar a atenção do público, e essa falta de interesse por parte da audiência reflete no trabalho das bandas que por vezes ficam desmotivadas e encerram as atividades prematuramente. Só os teimosos insistem mesmo rs…
A tecnologia faz diferença no som da banda?
No nosso som em si não. Mas as facilidades de gravação de hoje permitem que com o mínimo investimento seja possível produzir material demo pelo menos. E foi o que fizemos. Nossos registros até agora foram todos nesse esquema D.I.Y. (Do It Yourself). Nossas demos nunca foram vendidas e sim dadas, pois nosso custo era praticamente zero. A tecnologia nesse sentido só fez ajudar.
Qual a importância das letras na sua opinião? O público se interessa pelas letras?
Pra mim as letras são parte essencial da música. Uma canção é 50% letra e 50% melodia e harmonia. Sempre me identifiquei mais com músicas que aprendi as letras. Há uma interação maior na experiência. Às vezes a mensagem nem precisa ser tão profunda, mas sim ser uma BOA letra, que case bem com o todo. Quanto ao público acho que uma parcela se interessa mesmo pelas letras, mas são a minoria.
Qual a maior satisfação que você teve com música até hoje? Foi na platéia ou em cima do palco? Ou no backstage?
A maior satisfação até agora foi ter feito o show de abertura do grande Violeta de Outono e perceber que tinha gente lá pra ver o Canyon mesmo,muitos nunca tinha ouvido falar do Violeta (por mais que soe estranho, é verdade) e foram ao show por nossa causa e vieram falar comigo sobre isso depois. O show em si foi mágico,foi nosso evento mais marcante até hoje.
A busca por um som diferente é uma constante?
Acho que pra gente as coisas acontecem de uma forma natural. Não “forçamos” essa singularidade no nosso som, curtimos muita coisa e essas influências aparecem na nossa música, tem um pouco de Rush, Queen, Thin Lizzy, Zeppelin e não temos vergonha disso. Agora sem falsa modéstia nosso som tem a nossa marca sim, e soa diferente de muita coisa que rola por aí. Mas não é uma coisa que seja uma regra, que tenhamos sempre que fazer um coisa diferenciada, aliás as músicas que eu escrevo sempre são taxadas de plágio pelos outros da banda rs.
Qual a melhor maneira de entender o que acontece no mundo underground?
Qual o seu envolvimento com a cena atualmente?
Meu envolvimento como muitos da minha faixa de idade é aquele: Devido ao pouco tempo, trabalho, família; já não estou tão presente nos eventos em si, mas tento dar uma força divulgando sons, shows, fazendo capas pra demos, logos pra quem me procura, e tentando fazer intercâmbio entre bandas, conhecer o trabalho da galera daqui e mostrar pra amigos de outros estados. Acho que sou até chato às vezes por ficar mandando sons daqui pra galera de fora direto… Mas eu acho importante. Faço minha parte nesse lado da divulgação. Acho que essa é a minha parcela de envolvimento atualmente,além dos shows.
Quais estilos e bandas merecem a sua atenção hoje em dia?
Meus estilos preferidos sempre foram o Heavy Metal clássico,Thrash, Death 90’s, Hard Rock, Hard 70’s e Progressivo e é nisso que me foco quando procuro conhecer coisas novas. Eu sempre estou vasculhando a net e um cara que sempre dá boas dicas é o Clinger (daí de Minas !) do Heavy Metal Online. Ele tem uns blocos onde sempre rola sons de bandas underground e quando gosto sempre vou atrás de conhecer e por outro lado sempre estou fuçando coisa diferente. E nesse rol eu posso destacar uma infinidade de bandas: Apple Sin, Horizont, Son Of A Witch, Kataphero, Omfalos, Archty
O que você ouve de metal nacional?
Muita coisa, principalmente os antigos clássicos. The Hangman Tree do The Mist é o melhor disco de Metal já lançado no Brasil. Top 1 e ouço sempre, Arise-Sepultura, Laws Of The Scourge-Sarcófago; Mirror My Mirror-Witchhammer, Flôr Atômica-Stress, Tortuous Ways-Nephastus; Old Psychotic Eyes-Avalon; e outras bandas novas e antigas como Evil Machines, Darkside, Fist Banger, Oráculo, Thoth Amon, Jack Devil, Grave Reaper, From The Abyss, Insanity, Beowulf, Dynamit
Em 10 anos, ainda estaremos aqui?
Com certeza.Música é para sempre.Estaremos juntos nessa loucura até nossos últimos dias.
O que pode mudar para melhor nos eventos que os produtores nacionais oferecem para as nossas bandas?
Estrutura de palco, condições pra banda se apresentar bem, mais respeito com as bandas principalmente… Já toquei em evento em que o “produtor” não trocou uma única palavra com a gente. Você tocar por uma garrafa de água mineral? Ainda existe isso… Se o cara faz o mínimo lucro que seja, a banda precisa receber algum retorno sim, se for um evento gratuito até que vai, caso contrário não há por que não…
O rock ainda têm o poder de transformar mentalidades e efetivar mudanças sociais e políticas duradouras?
Livros são fontes de inspiração para músicas?
Livros li poucos. Minha leitura foi forjada nos quadrinhos. HQs de horror brasileiras dos anos 80 como Kripta, Sobrenatural, Calafrio e, claro, os heróis da Marvel e DC Comics. Muita coisa interessante foi escrita nos quadrinhos: Monstro do Pântano de Alan Moore, Arkham Asylum, Piada Mortal, Sandman… daí sim eu tive inspiração pra letras, principalmente na adolescência.
Quais livros fizeram a sua cabeça?
O que falta no Metal Nacional?
Não sei. Musicalmente o Metal Nacional não deve nada a nenhum cenário de nenhum país. Eu acho que a personalidade do brasileiro contrasta um pouco com o que se espera de um público de Metal como na Europa por exemplo. Culturalmente falando, somos um povo que gosta de festa por natureza e pode ter certeza que muitos participam de shows apenas pela diversão mesmo, não há um engajamento maior nesse ideal de apoiar novas bandas, divulgar eventos entre outras coisas. Aí fica algo meio disperso. Público há, mas tem alguma coisa que falta que eu também não sei dizer o que é. Valeu essa resposta? rs.
Banda favorita de todos os tempos e estilos?
Qual CD você daria de presente para o seu pior inimigo?
Qualquer bosta do Eminem, mas ele provavelmente gostaria. Pensando bem, prefiro que meu pior inimigo morra!